quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Cinelândia

Os tipos são os mais diversos, descontraídos ou carrancudos, saudáveis ou moribundos, asseados ou imundos, discrimináveis até que se instala o tumulto à hora do almoço, a partir do qual o cuidado se desvia das faces para os pés, nos quais não se quer pisar.
Perambulando pelas imediações da Cinelândia, alcanço a rua do Ouvidor, que, por constar da literatura de Machado, dele faz com que eu me recorde prontamente.
A lembrança do ídolo poderia muito bem ter provocado uma peculiar saudade, aquela do que não se viveu. Uma deleitável sugestão do Rio das últimas décadas do século XIX, cenário de suas obras. E meu deslumbramento com o Real Gabinete Português de Leitura, esplêndida biblioteca outrora freqüentada pelo escritor, poderia ter-lhe esboçado os contornos, sentado à mesinha de madeira, enfiado num livro.
Nada, contudo. Nenhum delineamento da franzina figura. Tampouco de qualquer outro vestígio da antiga capital. A realidade não cedeu lugar à fantasia alguma.
Não que eu esperasse uma repentina configuração daquela época aos meus olhos. Nem que meu passeio tenha sido menos divertido pela ausência de um Rio imaginário.
Apenas isto: mais sedutor que o passado legítimo é um outro que o poderia ter substituído.