sábado, 20 de setembro de 2008

Invasão Bárbara

Quem uma vez sucumbiu ante sua força agora insiste em lhe resistir. Falha ao tentar encobrir suas verdadeiras intenções e acredita ser possível adiar nova cessão. É prepotente ao apostar na constância da investida, e patético ao temer perder a preciosidade que ora afasta.
Aquela tinha suas razões para persistir. Contudo, seu alvo não mais se lhe apresenta tão encantador quanto outrora. Esse, a que se dedicou, a que tanto mais se dedicaria, já não merece seus exaustivos e pacientes cuidados.
Ela, sim, é digna de toda homenagem e zelo, ciente de seu inestimável valor.
Sabe quando lhe é negada devida atenção.
Parte.

domingo, 14 de setembro de 2008

Correspondência

Ao Cair da Noite - Eugênio de Castro

Numa das margens do saudoso rio,
Contemplo a outra que sorri defronte:
Lá, sob o Sol, que baixa no horizonte,
Verdes belezas, enlevado, espio.

-Ali (digo eu), será menos sombrio
O viver que me põe rugas na fronte...
E erguendo-me, atravesso então a ponte,
Com meu bordão, cheio de fome e frio.

Chego. Desilusão! Da margem verde
Eis que o encanto, de súbito, se perde:
Bem mais bela era a margem que eu deixei!

Quero voltar atrás. Noite fechada!
E a ponte, pelas águas destroçada,
por mais que a procurasse, não achei!



Prezado Eugênio,

A margem de lá não sei se me sorri. Não sei nem se a espio assim, tão enlevado.
Porém, contando ou não com o sorriso da de lá, não conto mais com o da de cá, e tenho de deixá-la.
"O viver que me põe rugas na fronte" pode ser que menos sombrio lá se torne. Saberei somente quando chegar.
Não temo a desilusão. A margem que contemplo é belíssima.
E não tenho porque temer águas destroçadoras, pois que a margem de cá se me fechou.

domingo, 7 de setembro de 2008

!

Saber em que pensar. ser verdadeiro, não trair ninguém. falar trivialidades. fazer o que vier à cabeça. enfrentar o pesar. insistir não vale nem convém. o tal do egoísmo permanece um mistério. ser menos ingênuo e mais atento. não se exceder na expressão de sentimentos nem querer impressionar. não esperar do outro a entrega a que se dispõe. aceitar que não há escolha senão perseguir o fim do desejo. expectativa alguma! convicção de que nunca se conhece uma pessoa tão bem que não se possa se surpreender com suas decisões. seguir adiante e transparecer, nunca por inteiro. sorrir e se resguardar. quanto à ternura, que não mais se encontra nos braços em que se encontrava, ficar feliz por tê-la tido até por mais tempo do que se era de esperar, dadas as condições atribuladas em que se a conquistou. não temer ser injusto com ninguém, agora que se parte sem pendências. refúgio nenhum. ler, sim, claro. e sempre! desta vez, não mais para se distrair. escrever, o que se faz de melhor. e publicar, porque há pouco que esconder.