terça-feira, 11 de novembro de 2008

De nova para cheia

Flagrar sua amada Angélica enlaçada por Medoro e os perder, porque feitos de matéria tão "tênue e fugaz" que inapreensível às "manoplas de ferro" suas, roubou a inteligência de Rolando: "algo dentro dele se rompeu, explodiu, acendeu e fundiu-se, e instantaneamente apagou-se-lhe o lume do intelecto e ele mergulhou na escuridão". Assim Ítalo Calvino entrega seu herói à loucura, numa das surpreendentes histórias de O castelo dos destinos cruzados.
Logo na seguinte, Astolfo, incumbido de resgatar o juízo de Rolando, recorre a um adivinho que lhe indica os "campos lívidos da Lua", onde se localizariam "as histórias que os homens não viveram" e "as partículas do possível descartadas no jogo das combinações". Engana-se o adivinho.
A Lua guarda menos histórias não vividas que à espera de quem lhes dê vida. Em vez de possibilidades descartadas, apenas umas ainda desconsideradas.
Dela partem "todos os discursos e poemas" dos quais é merecedora. Nela se encontra o "rimário universal das palavras e das coisas", a partir do qual o poeta interpola "as razões e as desrazões".
A Lua é razão da escrita e desrazão acometedora de cada um a que se apresenta.