terça-feira, 11 de novembro de 2008

De nova para cheia

Flagrar sua amada Angélica enlaçada por Medoro e os perder, porque feitos de matéria tão "tênue e fugaz" que inapreensível às "manoplas de ferro" suas, roubou a inteligência de Rolando: "algo dentro dele se rompeu, explodiu, acendeu e fundiu-se, e instantaneamente apagou-se-lhe o lume do intelecto e ele mergulhou na escuridão". Assim Ítalo Calvino entrega seu herói à loucura, numa das surpreendentes histórias de O castelo dos destinos cruzados.
Logo na seguinte, Astolfo, incumbido de resgatar o juízo de Rolando, recorre a um adivinho que lhe indica os "campos lívidos da Lua", onde se localizariam "as histórias que os homens não viveram" e "as partículas do possível descartadas no jogo das combinações". Engana-se o adivinho.
A Lua guarda menos histórias não vividas que à espera de quem lhes dê vida. Em vez de possibilidades descartadas, apenas umas ainda desconsideradas.
Dela partem "todos os discursos e poemas" dos quais é merecedora. Nela se encontra o "rimário universal das palavras e das coisas", a partir do qual o poeta interpola "as razões e as desrazões".
A Lua é razão da escrita e desrazão acometedora de cada um a que se apresenta.

5 comentários:

Tutank Akenaton disse...

Bom, da escrita pura e romãntica, onde há heróis e vilões, asseguro que não há maior símbolo que a Lua. Mas quando se é apresentado ainda em vida ao desprezo e depressão, a lua não vira mais do que uma reles lâmpada dependurada num céu de noite outonal.
Bonito texto, mas não vejo muito de criação sua, mais uma crítica ao Calvino, pois sua lua não parece a Lua dele, pois a dele parece menos solitária que a sua. Espero que não esteja solitário, já que 1 quarto da lua está lotado de juras de paixonites de casais, mas os outros três quartos penam pela superlotação de suspiros rejeitados aqui na Terra.
(in)Felizmente astronautas existem, e novamente a ciência sacaneou a ignorância poética.
Lembre-se do xurras do thiago. Um marco nesta vida (e na outra).

Bernardo disse...

Realmente há pouco de criação minha e devo a maior parte do texto ao meu estimado Calvino.
Não critico o mestre, eu simplesmente parto do que ele escreveu, sem valoração.
A Lua de que falo não é minha nem de ninguém senão dela mesma. Não está solitária, mas acompanhada por alguém que não a tem em tão alta estima quanto eu, =P

Babi disse...

Muito legal, BÊ! Bom, ver vc escrever de novo!
beijo*

Tutank Akenaton disse...

Ok, eu sei que você ama Machado, mas o que achou da minissérie da Globo "Capitu"?

Bernardo disse...

rapaz, eu adorei!!! sério mesmo! apesar de caricato, sobrecarregado de maquiagem e exagerado, a adaptação me pareceu mto fidedigna. A Capitu jovem é maravilhosa e a cena do velório do Escobar só não ficou melhor que aquela do primeiro episódio, de Capitu e Bentinho brincando de padre! e as músicas! a tema, sobretudo! que música mais emocionante! e olha que eu assisti na portaria de meu prédio lá de Cps, pq não tenho TV em casa, =S era o porteiro falando putaria e eu tentando me concentrar!
ei, vem texto novo logo, logo!
abraço!